quarta-feira, 12 de maio de 2010

Gentle Giant – In a Glass House 1973 (Versão Remasterizada com Bônus, 320-128 kbps)


“1.973 foi um ano de vários acontecimentos para o "Gentle Giant". Um deles foi o lançamento do album "Octopus" com a entrada do baterista John Weathers (que tocou em bandas chamadas "The Eyes of Blue", "Buzzy Linhart", "Ancient Grease" e outras não muito conhecidas ao meio do gênero de rock progressivo) definitivamente no grupo até o fim das atividades da banda em 1.980 por Malcolm Mortimore (ele precisou ser substituido em "Octopus" por Weathers porque sofreu um sérissimo acidente de motocicleta impedindo-o de se apresentar).
Com o decorrer da turnê para a apresentação do album o "Gentle Giant" que inicialmente era um sexteto, passou a se tornar quinteto com a saída de um dos irmãos Shulman, Phil Shulman, o mais velho, que fazia boa parte dos instrumentos de sopro, atuando mais tarde como professor de música. Phil saiu do GG no início de 1.973 após o grupo ter feito apresentações na Itália, devido a motivos de diferenças pessoais muito sérias. Era já um começo crítico para a banda pois cogitava-se inclusive na hipótese de que o grupo terminaria por ali mesmo após a turnê de "Octopus", mas os rapazes refletiram repensaram e arriscaram a idéia de continuar na estrada da música. Continuaram a turnê se apresentando pela primeira vez tanto como um quinteto quanto nos EUA abrindo os shows para o "Jethro Tull".
Em julho de 1.973 (diga-se que o GG já vinha desde novembro de 1.972 fazendo as gravações de "In a glass house", possivelmente a demora deve ter ocorrido ao fato do descontentamento de Phil na banda e posteriormente a sua saída), o grupo vai para o estúdio gravar como quinteto e mais um outro empecilho vem perturbar o grupo; desta vez seria o selo da gravadora do qual eles haviam sido contratados em "Three friends" (1.972), a Columbia Records (CBS), devido ao interesse que o conjunto despertou nos Estados Unidos. A Columbia após a realização de "Octopus" começou repentinamente a passar por uma crise interna financeira e tudo levava a crer que não conseguiria cobrir os custos que estariam por vir no album seguinte (que é neste caso, "In a glass house").
Ainda que a gravadora reconhecesse que a banda aplicaria uma série de efeitos sonoros, isto também foi usado como desculpa para a mesma não acreditar na banda, ainda mais pelo GG não ter intenção de se tornar um grupo estritamente comercial.
Fica uma dúvida: será que foi mesmo devido aos efeitos sonoros (eles nem se apresentam no album inteiro) e o GG não querer se tornar uma banda comercial ou a saída de Phil Shulman do conjunto na Columbia Records não arriscaria a permanência do GG no selo se estivesse em crise financeira ?
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De qualquer maneira o grupo seguiu em frente e conseguiu fazer a gravação com um selo chamado WWA (World Wide Artists) Label, na Alemanha a gravação saiu pela Vertigo Records (que já os tinha desde o album de estréia "Gentle Giant" (1.970)). Consequentemente, os Estados Unidos só tiveram a lamentar porque precisaram importar "In a glass house" da Inglaterra (país de origem da banda) isto porque o album nunca foi realizado nos Estados Unidos (nem mesmo inclusive em CD!!!!) . Quando foi editado resultou-se numa importação de cerca de 150.000 cópias, até hoje sendo um dos preferidos pelo público americano.
Quanto a saída de Phil Shulman, não foi mais importante que o recrutamento do baterista John Weathers; a banda sentiu evidentemente muitas dificuldades e tensão nas gravações com a falta de Phil que manteve um estilo próprio. Por outro lado a contribuição de Weathers foi determinante também para o trabalho do grupo, trazendo um som mais sólido, conciso e que compensaria a perda do outro integrante, este sendo fundador do GG. A formação a partir deste album como um quinteto ficou da seguinte maneira: John Weathers na bateria, percussão e vocais de apoio; Gary Green nas guitarras, violões, percussão e vocais de apoio; Kerry Minnear nos teclados, percussão e vocais, Derek Shulman nos instrumentos de sopro e vocais e Ray Shulman no baixo, violão, violino, percussão e vocais.
Lançado em setembro de 1.973, "In a glass house" que resultou num único compacto marca também pela primeira vez na presença do público um aspecto mais incentivador com telas gigantescas visuais atrás dos palcos. Sendo assim, os espectadores ingleses inicialmente não gostaram muito da nova formação, mas aos poucos foram prestando mais atenção na banda e demonstrando mais interesse pela música do GG. Detalhe interessante: uma idéia que o GG pensou para se aproximar dos espectadores em suas apresentações ao vivo era tornar algo semelhante ao que o "Genesis" (fase de Peter Gabriel em suas encenações teatrais musicais no conjunto) fazia... como ter Weathers fantasiado sob a forma de um "Gigante Gentil" (que é vizualizado nas capas, repare que a fisionomia de Weathers é até próxima do personagem) andando no palco em meio a várias casinhas de boneca sob fumaças artificiais, mas infelizmente a idéia foi abortada e nunca utilizada.
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O GG demonstra neste trabalho um tanto mais de rock do que nos outros já gravados, a marca da sonoridade medieval ainda se mantém. O que dizer dos músicos ? Kerry Minnear em todo o momento está tanto delicado como ágil nos teclados, Derek Shulman se divide nos vocais entre o leve e o pesado, Ray Shulman preenche linhas de baixo tocadas de forma muito interessante e inteligente, Gary Green se mantém tão discreto em seus instrumentos de cordas que é impossível deixar de prestar atenção e por fim John Weathers acompanhando o restante dos companheiros numa forma de ritmo muito arrojada.
Não existem dúvidas de que o GG era um conjunto de músicos extremamente talentosos e criativos além do que também eram multi-instrumentistas . E este álbum, que precisou atravessar uma fase tão delicada entre questões por efeitos sonoros, crises financeiras e cisões, acabou se tornando um dos mais importantes trabalhos que a banda realizou em toda sua carreira. Falando inclusive de efeitos sonoros, o "Pink Floyd" também naquele mesmo ano de 1.973 havia gravado um album muito conceitual e dos mais vendidos no mundo do rock; "The dark side of the moon", onde justamente tais efeitos são muito explorados junto com a música.
Em “In a Glass” as letras são inteligentes e reflexivas e todos os membros tem sua oportunidade de se apresentar nos momentos solo. Com melodias que se dividem entre maneiras um tanto agitadas e suaves o album inteiro está perfeito, longe de defeitos na sonoridade (como as gravadoras temiam), consagrando-os mesmo como quinteto.
A produção foi feita pelo próprio GG que está impressionantemente muito boa para um selo underground no mercado e feito de maneira analógica (já que na época não tinha uma tecnologia avançada para confecção de gravação digital). Isto acrescido do auxílio de pessoas como Gary Martin que colaborou no "Yes" em "Fragile" (1.971), o baixista Hugh Hooper, músico inclusive do "Soft Machine" na época em que se encontrava na banda com o solo "1.984" (1.973), "Brian Auger's Oblivion", David Essex e outros.
A arte gráfica foi elaborada por Martyn Dean, parente de Roger Dean, que colaborou com o "Yes". Vale uma ressalva a respeito da capa elaborada de forma tridimensional, que originalmente no vinil vinha num papel celofane com impressões dos músicos e desenhados de maneira diferente. A medida que fosse juntado/pressionado o celofane com a capa do vinil a gravura ficava mais preenchida como se houvessem mais de 5 músicos no conjunto, portanto um achado (caso alguem encontre esta edição em LP).
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Frontal e selo do LP lançado pela alemã Vertigo
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Edição da WWA Records, selo pequeno por onde In a Glass House veio a tona

À mesma maneira ocorreu com o CD lançado em 1.992. O problema é que o proprietário do disquinho deve ter um cuidado enorme já que uma parte destas imagens vem impressas na proteção acrílica frontal da qual se abre o CD. Se quebrar perde-se a graça do encarte. A vantagem que esta outra edição possui é que vem com duas faixas a mais de bonus.
Qual pessoa que tivesse assistido em 1.972 o filme "The Glass house", baseado numa estória de Truman Capote a respeito das horríveis condições dentro de uma prisão de segurança máxima, e gostasse de GG, que tem neste album como o objetivo retratar o conceito sobre a vida e pensamentos de um condenado não acabaria se apaixonando pela obra?
"The runaway" - com quase 7:30 de duração, inicia "In a glass house" com o barulho de vidros se quebrando (já que "glass" quer dizer "vidro" em inglês), uma verdadeira "guerra" com razoável quebradeira. Algo muito semelhante como em "Money" do "Pink Floyd" de "The dark...". Só que no caso a introdução é de uma máquina registradora que também se mantém alguns instantes, assim como "The runaway", sob a entrada de efeitos sonoros. Além disso a maneira como foi feita a inclusão dos efeitos sonoros e o modo como entra a melodia da faixa repentinamente lembra também a faixa "The boys in the band" do "Octopus", album anterior do GG. A quebra do vidro apresentada sob a forma do título do album dá a intenção de advertir que quem possui telhado de vidro não deve atirar pedra no vizinho, ou seja, a pessoa ser o que é e não cuidar da vida dos outros. Foi uma das primeiras faixas inseridas no set-list do GG, incluindo a introdução da quebra do vidro. Quando a banda iniciava a entrada repentina da melodia um clarão de luzes se colocava acima do grupo e em algumas apresentações faziam um "medley" junto com "Experience", tambem do "In a glass" . Quando a quebradeira de vidros termina a melodia da faixa se inicia de uma maneira muito viva junto a um teclado que vai aumentando de volume, tendo Derek surgindo nos vocais coordenando a faixa e sendo acompanhado relativamente em um curto instante apenas pela guitarra de Green, com o restante da banda junto nos dois refrões. Na primeira parte instrumental tem-se alguns solos de teclados e posteriormente o de uma flauta até que retorna a banda novamente cantando com Minnear junto a um violão acústico. Neste trecho inclusive tem uma pequena pegada de Buddy Rich, Weathers comentou numa entrevista ter "copiado" o ritmo do artista.
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No próximo tema a banda fica numa forma melódica em estilo medieval, mas retorna novamente com a guitarra de Green solando posteriormente, seguida através de um solo de xilofone. A faixa retorna ao refrão que iniciou a melodia terminando por fim de forma sinistra. Aqui existe inclusive um erro fonográfico feito no CD e no final da faixa; os quase 10 segundos finais foram colocados na faixa posterior "Inmates Lullaby", ou seja "The runaway" "perdeu" quase 10 segundos. Observe que a faixa tem um ritmo em determinados momentos meio funk.
A bonus que vem no CD remasterizado mais recente tem uma versão ao vivo desta acrescido de "Experience", música deste mesmo album numa apresentação de setembro de 1.976. Possui versão ao vivo nos albums "King Biscuit Flower hour" (1.998) e em "Totally out of the woods - The BBC sessions" (2.000). O mesmo "medley" com a "Experience" está também apresentado no primeiro album conceitual e um dos favoritos dos fãs do GG, "Playing the fool- Live" (1.977).
"Inmates Lullaby" - muitos fãs do GG não gostam desta faixa talvez por ela ser melosa até ao extremo, mas tem um detalhe muito interessante que possivelmente pouca gente sabe e daria até mais valor para ela: todos os instrumentos tocados são de percussão desde o início ao fim da faixa. Poucos grupos de rock progressivo exploram instrumentos de percussão melodiosa como o xilofone, marimbas e outros além dos vocais; uma banda que explorou muito estes tipos de instrumentos, embora não tem um carater canônico igual do GG foi a banda francesa "Gong", tanto na época com o fundador Daevid Allen (um exemplo em "Angels egg" (1.973)) e mesmo com sua ausência (um exemplo em "Gazeuze!" (1.976)), são evidentemente também esquemas diferenciados. É uma composição muito excêntrica que possivelmente o GG gravou como se tivesse dando forma a idéia em meio a uma canção de ninar, criando um ambiente muito misterioso; vide os vocais de Derek. As letras referem-se a alguém insano criminalmente. Não esqueça que se o ouvinte possuir a versão em CD os quase 10 primeiros segundos não são pertencentes a faixa e sim da anterior "The runaway". Saiu inclusive em compacto.
"Way of life" - com 8 minutos de duração, é uma das faixas mais rápidas do album além de ser triunfante e engenhosa. É um tipo de música que lembra aquelas frases musicais que seguem uma após outra e com o tempo, se o ouvinte é muito emotivo, acaba se tornando constantemente surpreso a medida que vai descobrindo o objetivo tanto de sua sonoridade como das letras.
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A faixa em si é relativamente um tanto diferenciada por conter vários temas musicais e também se percebe um tímido ritmo de funk por mais incrível que seja para uma banda como o GG. Inicia com Gary gritando "Go!" e então a banda entra totalmente num ritmo rápido com Derek cantando uma melodia que por instantes fica num meio sinistro com a guitarra e o teclado, fazendo uma parceria finalizando o primeiro refrão. O GG então retorna fazendo o segundo refrão onde há presença de um órgão consistente de Minnear junto com a flauta tocada por Ray, causando uma sonoridade medieval que é típica do conjunto. Entrando Derek nos vocais e o restante da banda se mantém uma melodia novamente um tanto sinistra, com a guitarra recebendo aos poucos os teclados de Minnear. Então o GG inicia o terceiro refrão do qual Derek finaliza as letras e o conjunto vai se dissipando, Minnear apenas no órgão ficando quase 2 minutos aos poucos também parando e concluindo a música de vez (segundo Minnear este final tinha como o propósito partir para ser uma outra música). Foi também uma faixa que incluia o set-list do GG durante a promoção do album.
"Experience" - com quase 8 minutos de duração, agora é a vez de Minnear fazer os vocais principais (repare que os vocais de Derek e Kerry até que não são tão exageradamente muito diferentes). A banda demonstra um esforço também muito grande nesta faixa, talvez uma das maiores complexidades do GG em "In a glass house" esteje aqui. Algo talvez próximo estaria em "The adventure of Pantagruel" do "Octopus", album anterior a este. Mas aqui a diferença é que apresenta mais rock e novamente mais funk; grande parte dos fãs do GG possivelmente se sentiriam ofendidos mas uma parte do album está muito associado a este tipo de ritmo, portanto "In a glass house" tem que ser ouvido e admirado inteiramente com muita cautela.
Aliás "Octopus" também oferece alguns poucos momentos de funk sim, e nem seria vergonhoso se o GG argumentasse porque gravaram algo assim; imagine o seguinte, quando eles excursionaram nos Estados Unidos na turnê de "Three friends" (1.972), o país também vivia uma parte do público que estava sendo tomado por conta do funk de gente como "Earth, Wind & Fire", "The Isley Brothers", Herbie Hancock e entre outros naquele tempo. É bem possível que o GG tenha sentido neste país que a forma do grupo em executar sonoridade medieval com o rock poderia "casar" perfeitamente com o funk. "Experience" praticamente comprova esta hipótese.


Os destaques mais interessantes são possuir alguns toques de violino, toques para linhas de baixo existentes ao longo da faixa junto a percussão e baterias de Weathers, órgão de Minnear com seu vocal, além do ritmo funk em determinadas ocasiões onde se ouve neste momento o vocal de Derek na única frase que cita "Master inner voices, making the choices". Foi também uma faixa que incluia no set-list do GG durante a promoção do album virando um "medley" junto com "The runaway". Possui uma versão ao vivo nos albums "King Biscuit Flower hour" (1.998) e em "Totally out of the woods - The BBC sessions" (2.000).
"A reunion" - é a menor faixa do album com pouco mais de 2 minutos de duração, pequena demais pela forma como foi tocada. Para alguns ouvintes claro poderia ter se extendido um tanto mais, mas ficou agradável pela sonoridade que já vale a faixa. Aqui também é o vocal de Kerry Minnear se tornando o principal além de fazer os toques de piano elétrico, sendo acompanhado por bonitos riffs de violinos, dedilhadas de violão, toques de baixo. A canção é muito melodiosa, talvez um profundo momento do GG de relaxamento e "meditação" na faixa. Detalhe: onde está Weathers ? Só na introdução da faixa fazendo 8 toques no bumbo da bateria lembrando o ritmo de um coração pulsando.
"In a glass house" - é a maior faixa do album também com pouco mais de 8 minutos de duração. Na verdade ela termina até antes já que os 20 últimos segundos são um retrospecto muito rápido de minúsculos trechos de cada faixa executada pelo GG neste álbum. Pela ordem: "The runaway", "Way of life", "Experience", "In a glass house", "An inmates Lullaby", "A reunion". Isso sem contar que a abertura tem a quebra de vidros, como também em seu final. A faixa possui múltiplas sessões de vários temas, além de que parece que o GG toca todos os instrumentos que possuem, uma "guerra" de instrumentos (mandolins, violões, saxofones, trompetes, piano elétrico, marimbas, xilofones e etc.). A banda pelo visto aproveitou como pode durante estes 8 minutos evitando desperdícios, fazendo mais uma vez rock, folk (medieval), funk (novamente !?). Saiu em versão compacto junto com "An inmates Lullaby". Outra faixa que era incluída no set-list do GG durante a promoção do álbum, geralmente com Gary Green solando um tanto mais na guitarra conduzindo a música. Esta faixa tem uma outra versão ao vivo na edição em CD remasterizada mais recente, de 1.974.
Por Steve Hillage, livre adaptação
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Gary Green - violões acústicos de 6 e 12 cordas, guitarras acústicas e elétricas, mandolins, percussão, vocais de apoio.
Kerry Minnear - teclados, pianos elétricos, percussão melodiosa, vocais principais.
John Weathers - baterias, percussão, vocais de apoio.
Derek Shulman - saxofones, flautas, percussão, vocais principais.
Ray Shulman - baixo, violões acústicos, violinos, percussão, vocais de apoio.

1. The Runaway (7:15)
2. An Inmate's Lullaby (4:40)
3. Way of Life (7:52)
4. Experience (7:50)
5. A Reunion (2:11)
6. In a Glass House (8:26)

Bonus tracks on Remastered Edition:
7. The Runaway/Experience (live in Dusseldorf 9/23/76) (10:01)
8. In a Glass House (live in Munster 4/5/74) (9:49)

DOWNLOAD
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Acima momentos da banda em Quebec, 1973

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